sexta-feira, 3 de junho de 2011

2º FICHAMENTO

Análise comparativa da flexibilidade de instrumentos endodônticos, submetidos ou não a tratamento térmico

Sérgio Koiti KAMEI*
Marcelo dos SANTOS**
Antônio Carlos BOMBANA***

O sucesso endodôntico deriva da obturação definitiva e hermética do canal cirúrgico, possibilitado pelo adequado preparo do canal radicular onde se procura obter o máximo de limpeza e uma melhor modelagem. Entretanto, em certas ocasiões, o canal radicular apresenta-se visivelmente encurvado, detalhe anatômico que dificulta a adaptação dos instrumentos às paredes dentinárias e suas ações associadas à manutenção da forma original do canal radicular.

A transposição desse obstáculo está subordinada ao conhecimento, ao domínio técnico, ao adestramento profissional, à experiência clínica e às propriedades físico-mecânicas dos instrumentos.A obtenção de uma peça metálica como a lima é produto final de um processo de conformação plástica em que se aplicam tensões por trabalhos a frio (abaixo da temperatura de recristalização do metal). Como conseqüência desse trabalho a frio, ocorre o fenômeno de encruamento do metal que acarreta modificações em algumas propriedades físicas (diminuição da densidade e condutibilidade elétrica) e mecânicas (maior limite de escoamento, resistência e maior dureza), acorde BRESCIANI et al.5 (1991).

Foram utilizadas 144 limas endodônticas: 72 limas tipo K, marca Maillefer e 72 limas tipo Flexofile®, marca Maillefer.Inicialmente, as 72 limas de cada tipo foram submetidas a exame visual em um perfilômetro. Posicionadas sob a luz do projetor, as linhas-guia do aparelho percorriam as limas indicando no mostrador digital a ausência de deformações plásticas permanentes; qualificadas nesse controle, as limas eram levadas para o ensaio de flexão. 

Para realizar-se o ensaio de flexão, adaptou-se o troptômetro17, aumentando-se a área de sua base de sustentação e adicionando-se uma guia metálica, de modo a permitir o posicionamento horizontal do mandril de Jacobs do troptômetro e da célula de carga em plano paralelo à base do equipamento.A fixação das limas era obtida após a remoção de seus cabos com o auxílio de um alicate de corte. Em seguida, as limas recebiam uma marca com tinta permanente a 23 mm de D0, fixadas horizontalmente no nível da marca ao mandril de Jacobs em posição paralela à escala de ângulos do troptômetro.A célula de carga foi nivelada sobre a base de sustentação e, sob o mandril do troptômetro, a lima entrava em contato com o sensor da célula de carga de modo a indicar 0 g no mostrador digital. A escala do troptômetro era configurada para 0º.

Ao acionar-se a manivela das engrenagens, o mandril de Jacobs movimentava-se no sentido horário, até os ângulos de 30º, 45º e 60º sucessivamente, indicados pela escala do troptômetro. A cada uma dessas angulações, anotava-se o maior valor da carga, em gramas, indicada no mostrador digital da célula de carga.A seguir, as amostras de instrumentos restantes foram submetidas ao tratamento térmico recristalizador em um forno de recozimento à proporção de doze unidades de cada número e tipo.As limas foram confinadas em 6 tubos de quartzo com 8 mm de diâmetro interno, 1,5 mm de espessura de parede e 200 mm de comprimento e hermeticamente fechadas com o auxílio de um maçarico de acetileno-oxigênio. Os tubos selados foram introduzidos em um forno de recozimento à temperatura de 600ºC por um período de 1 hora. Em seguida, foram removidos do forno e deixados à temperatura ambiente até o completo resfriamento. Posteriormente, os tubos foram rompidos e as limas submetidas a dois ensaios.

O primeiro consistia na observação visual de cada lima no perfilômetro, acerca da integridade e ausência de deformações plásticas permanentes. Os instrumentos aprovados nessa observação eram submetidos ao ensaio de flexão, de acordo com a metodologia já descrita.

Em vista dos resultados obtidos, parece lícito concluir que:
1. o tratamento recristalizador diminuiu a resistência à flexão das limas tipo K de forma significativa para as numerações e angulações estudadas;
2. as limas Flexofile® sofreram redução da resistência à flexão, porém não estatisticamente significante em todas as condições experimentais, exceto para a lima número 25 tratada;
3. as limas tipo K são mais susceptíveis ao tratamento térmico recristalizador como se observou neste estudo, quando comparadas com limas Flexofile®.

  * Professor Mestre da Disciplina de Endodontia do Curso de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo.
 ** Professor Doutor;
 *** Professor Associado - Disciplina de Endodontia da Faculdade de Odontologia da USP.


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