sexta-feira, 22 de julho de 2011

Risco de Morte



O cirurgião-dentista e especialista em saúde coletiva Júlio César é taxativo: as doenças da boca podem matar. De acordo com ele, 40% das endocardites bacterianas — infecções do endocárdio — têm como causa as doenças bucais. Desse universo, 20% dos pacientes não resistem à patologia. “É uma questão de saúde pública. Praticamente 100% da população teve, tem ou terá cárie e doenças das gengivas, que são os problemas mais comuns da boca. As bactérias bucais caem na corrente sanguínea e se alojam nas paredes do coração, desencadeando os danos”, explica.

O especialista acrescenta que os processos infecciosos bucais se disseminam para o resto do corpo e podem afetar, inclusive, o cérebro. Como parte do aparelho estomatognático, a boca é importante para a fala, a deglutição, a mastigação e outros processos. “É a porta de entrada para a saúde. Se não cuidada, porém, a boca pode ser um portal para as doenças”, observa. As cáries e gengivites são as mais comuns. Embora a incidência tenha diminuído nos últimos 10 anos, os brasileiros ainda sofrem muito com elas (leia Para saber mais).

As novas gerações têm se mostrado mais atentas aos cuidados com a boca. Com um pouco de insistência e orientação, crianças e adolescentes acabam adquirindo bons hábitos de higiene bucal. Com a estudante Laíssa de Oliveira Domingues, 18 anos, foi assim. “Sempre tive mais propensão à cárie do que meus dois irmãos. Vou ao dentista desde os 4 anos, mas elas insistiam em aparecer”, lamenta. Quando Laíssa aprendeu a escovar corretamente e a usar o fio dental regularmente, a história mudou. “Hoje, escovo pelo menos três vezes ao dia e vou ao dentista de três em três meses. As cáries desistiram”, comemora a moça.

O cirurgião-dentista Haroldo Hab observa que os problemas gástricos decorrentes das bactérias bucais também são frequentes entre os pacientes da terceira idade. “As infecções orais crônicas são evitáveis. A visita periódica ao dentista objetiva essa prevenção. Na consulta, fazemos uma inspeção geral em toda a boca para detectar alterações. Entre elas, o câncer bucal”, pondera. Hab reforça que as doenças são multifatoriais e que as placas bacterianas maximizam as chances de a pessoa desenvolvê-las. “Nem todos que têm placas bacterianas desenvolvem cardiopatias, mas quase todos os cardíacos têm doença periodontal”, sintetiza.

O cardiologista do Incor/Taguatinga Evandro Osterne explica que as válvulas cardíacas são as mais afetadas e que pacientes com predisposição para cardiopatias devem ter ainda mais cuidado. “Trabalhos recentes demonstram que há uma relação grande entre a inflamação da gengiva e o agravamento do processo de arteriosclerose das coronárias e carótidas. No caso das endocardites, o tratamento pode ser com antibióticos fortíssimos ou até cirurgias de alto risco”, alerta.
Do Correio Braziliense

sexta-feira, 3 de junho de 2011

VÍDEO DE GENÉTICA- INTÉRFASE- INTERIOR DE UMA CÉLULA EUCARIÓTICA...


10º FICHAMENTO

ANÁLISE DA AÇÃO ANTIMICROBIANA DE CIMENTOS E PASTAS EMPREGADOS NA PRÁTICA ENDODÔNTICA*



Marco Antonio Hungaro DUARTE **
Paulo Henrique WECKWERTH ***
Ivaldo Gomes de MORAES ****


Na luta pela obtenção da anti-sepsia dos canais radiculares com a instrumentação e a irrigação, procura-se a desinfecção e o saneamento, eliminando microorganismos presentes tanto na luz do canal principal, como no sistema de canais radiculares. Porém, a presença dos microorganismos em locais inacessíveis do sistema de canais e nas profundezas da massa dentinária faz com que eles persistam mesmo após um cuidadoso preparo biomecânico.

Assim, o uso de substâncias anti-sépticas como curativos intracanais para o combate de microorganismos persistentes ao preparo biomecânico tem sido recomendado por muitos pesquisadores. Contudo, tem-se constatado, ainda, resistência de alguns microorganismos, principalmente do Enterococcus faecalis e do Fusobacterium nucleatum, frente à ação anti-séptica da medicação intracanal.

Diante do exposto, conclui-se que a obturação assume responsabilidade crucial na inativação desses microorganismos através de um bom selamento, que depende fundamentalmente da técnica e do material utilizados. É importante que a obturação preencha o mais tridimensionalmente possível o canal, ocupando todo o espaço previamente repleto pelo tecido pulpar, deixando, assim, confinados os possíveis microorganismos resistentes às etapas anteriores do preparo do canal, sem substrato para desenvolverem seu metabolismo.

Além dessa ação seladora muito importante, a obturação deve desempenhar, também, uma ação anti-séptica, que está na dependência das substâncias que compõem o cimento obturador e que possam desempenhar o efeito antimicrobiano desejado. Assim, os microorganismos remanescentes ao preparo biomecânico e ao curativo intracanal de demora poderiam também ser eliminados por essa ação anti-séptica, intrínseca ao próprio cimento obturador.

Como exemplo, tem-se o cimento Endomethasone, cujo pó é possuidor de paraformaldeído e timol; já o líquido é composto de eugenol; essas substâncias possuem ação anti-séptica realmente comprovada. Outros exemplos são o cimento AH26, que libera o formaldeído durante a reação de polimerização, e os cimentos que contêm hidróxido de cálcio, substância que desempenharia ação antimicrobiana.

Diante do exposto, propusemo-nos a avaliar a capacidade anti-séptica in vitro, empregando o método de difusão radial, de alguns materiais empregados na rotina endodôntica, bem como verificar se o acréscimo de hexametilenotetramina ao pó do cimento Sealer 26 melhoraria sua capacidade anti-séptica.

Os materiais obturadores analisados neste trabalho foram:
  • Endomethasone (Spécialitês Septodont - Saint Main - Paris - França), sendo ele um derivado de óxido de zinco e eugenol;
  • AH26 (De Trey - Dentsply Ltda. - ASH - USA), um cimento resinoso;
  • Sealapex (Kerr Manufacturing Company - Michigan - USA), um cimento que contém óxido de cálcio, sendo classificado no grupo dos que contêm hidróxido de cálcio;
  • Sealer 26 (Dentsply Indústria e Comércio Ltda. - Rio de Janeiro - Brasil), um cimento derivado do AH26 acrescido de hidróxido de cálcio.
Com esse último cimento, foram preparadas outras duas versões experimentais acrescendo mais hexametilenotetramina ao seu pó. No experimental 1, foram acrescidos 5%, o que, em peso, correspondeu a 0,421 g, e no experimental 2, 10%, correspondendo a 0,888 g; em relação à embalagem corresponde a 8 gramas. Além dos cimentos citados acima, também foi avaliada a pasta de hidróxido de cálcio com soro fisiológico.

O método de escolha para a avaliação da ação antimicrobiana das substâncias em estudo foi a difusão do agente de forma radial no ágar de cultura. A sensibilidade dos microorganismos foi detectada pela presença ou não dos halos de inibição, os quais foram medidos utilizando-se de uma régua milimetrada e bastante luminosidade.

Os microorganismos utilizados para a avaliação foram:
  • Staphylococcus aureus (S. aureus ATCC***** 25923);
  • Enterococcus faecalis (E. faecalis ATCC***** 29212);
  • Streptococcus mutans;
  • Pseudomonas aeruginosa (P. aeruginosa ATCC***** 27853);
  • Klebsiella s.p.;
  • Candida albicans.
Com relação ao meio de cultura, utilizou-se o "Brain Heart Infusion - Ágar - MERCK", para as bactérias, e o "Sabouraud - Dextrose - MERCK", para a levedura (Candida albicans).

Os microorganismos da coleção conservados em "Tryptic Soy Agar - DIFCO" foram cultivados em "Tryptic Soy Broth - DIFCO". As culturas de 18 e 24 horas de incubação foram, então, diluídas em solução fisiológica estéril, até se obter uma turbidez visualmente comparada ao padrão 0,5 da escala de Mac Farland (aproximadamente 108 microorganismos/ml). Essa diluição era imediatamente semeada, com auxílio de uma zaragota de algodão estéril umedecida sobre o meio de cultura ágar, já com as escavações para receber as substâncias em teste em placas de Petri de 15 x 150 mm. Cada escavação possuía 6 mm de diâmetro e 3 mm de altura. Durante a semeadura, foi tomado o cuidado de não se contaminar o interior das escavações. Um período de 30 minutos se aguardou após a semeadura.

Em seguida, os materiais foram espatulados em placas de vidro com espátula de aço inoxidável, ambos estéreis, seguindo-se as seguintes proporções: Endomethasone, 6 g pó para 1 ml de líquido; AH26, 2 : 1 em peso; Sealapex, em porções iguais; Sealer 26 e seus derivados, 2,1/1 em peso22, e pasta de hidróxido de cálcio na proporção de 1 g pó/1 ml soro. Foi estipulado um período de 90 segundos para a espatulação. Após a manipulação, as misturas eram colocadas em seringas tipo Luer Look e, então, levadas às escavações. Após a complementação do preenchimento, aguardou-se um período de 30 minutos e, então, as placas foram levadas à estufa a 37ºC. Em geral, o ambiente utilizado para a cultura foi em aerobiose. Para o Streptococcus mutans e o Staphylococcus aureus, além da aerobiose, o experimento foi efetuado, também, em microaerofilia. A leitura e medição dos halos de inibição foram realizadas após 24 e 48 horas.

Diante dos resultados obtidos e da discussão pertinente, chegamos às seguintes conclusões:

1. O cimento Endomethasone apresentou ação contra todos os microorganismos testados, tendo a melhor performance dos materiais utilizados neste estudo.
2. O cimento AH26 foi mais efetivo do que o Sealer 26.
3. A adição de 5 ou 10% de hexametilenotetramina ao pó do Sealer 26 aumentou seus valores de inibição, principalmente com 10%.

* Parte da Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Bauru - USP, para obtenção do grau de Mestre em Endodontia.
** Professor de Endodontia da USC - Bauru.
*** Professor de Microbiologia da USC - Bauru.
**** Professor Doutor do Departamento de Dentística, Disciplina de Endodontia, da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.
***** American Type Culture Collection - 12301 Parklawn Drive, Rockville, Md. 20852. 25923);


9º FICHAMENTO

Cimentos endodônticos - selamento marginal apical imediato e após armazenamento de seis meses

Marcia Carneiro VALERA*
Mário Roberto LEONARDO**
Idomeo BONETTI FILHO***
 

A obturação do canal radicular complementa todo o esforço realizado nas demais etapas do tratamento endodôntico, conduzindo e contribuindo para o êxito definitivo deste tratamento. Para alcançar os objetivos desta importante fase, além das técnicas, o material obturador assume um papel de extrema importância.
O aparecimento constante de novos materiais e a busca de um cimento obturador ideal conduzem os pesquisadores à análise das propriedades físicas e biológicas destes cimentos.

O objetivo deste estudo foi avaliar o selamento marginal apical de canais radiculares obturados pela técnica da condensação lateral com cones de guta-percha e os cimentos Sealapex, Apexit, Sealer 26 (cimentos à base de hidróxido de cálcio) e Ketac Endo (cimento de ionômero de vidro). As avaliações foram feitas imediatamente após as obturações dos canais radiculares e após um período de 6 meses de armazenamento destas obturações em plasma sangüíneo humano.

 Para esta pesquisa, foram utilizados 136 dentes unirradiculados humanos, extraídos e armazenados em solução de formol a 10% até o momento de sua utilização. Os dentes selecionados apresentavam um único canal radicular, que permitiu linha de acesso direto a 1 mm aquém do ápice radicular. Suas coroas foram secionadas, procurando-se padronizar o comprimento médio das raízes em 16 mm. O acesso cervical foi localizado e uma lima tipo K foi inserida no canal radicular desde a cervical até o forame apical, a fim de se obter o diâmetro anatômico de cada canal radicular. Foram desprezadas as raízes que possuíam canais radiculares com diâmetro apical menor e maior do que o correspondente a uma lima tipo K número 10 e número 25, respectivamente.

As raízes foram divididas em 8 grupos, cada qual com 17, culminando com 15 experimentais, de acordo com o cimento a ser empregado na obturação dos canais radiculares, procurando-se uniformizar as amostras de cada grupo experimental, de acordo com os diâmetros dos canais originais previamente estabelecidos.

Os canais de todas as raízes foram sobreinstrumentados meio milímetro até a lima número 30 (Maillefer, S.A. Swiss). O batente apical foi realizado a 1 mm aquém do forame apical, até a lima número 60, e, em seguida, foi realizado um escalonamento regressivo com as limas número 70 e número 80. Durante a instrumentação, a cada troca de instrumento, foram realizadas irrigações com 3 ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%.

Ao término do preparo, os canais foram secos e, depois, preenchidos com uma solução de EDTA (EDTA dissódico - 202,8 g; hidróxido de sódio - 21,7 g; água destilada - 1.000 ml), que foi deixada no interior do canal por 3 min, seguida de uma irrigação e aspiração final com 10 ml de hipoclorito de sódio a 1%.

A superfície radicular externa foi impermeabilizada com três camadas de esmalte vermelho para unhas, com exceção da região correspondente à abertura de acesso cervical e ao forame apical. Os canais foram secos com cones de papel absorvente e, logo após, foi feita a seleção dos cones principais de guta-percha (Dentsply Indústria e Comércio Ltda.). Os canais radiculares foram obturados pela técnica da condensação lateral com cones de guta-percha e os cimentos Sealapex (Kerr/Sybron) - 2 grupos; Apexit (Vivadent Schaan/Liechtenstein) - 2 grupos; Sealer 26 (Dentsply Indústria e Comércio Ltda.) - 2 grupos; e Ketac Endo (ESPE Seefeld/Oberbay- Germany) - 2 grupos.

Todas as raízes foram radiografadas nos sentidos vestíbulo-lingual e mésio-distal, para constatação da qualidade das obturações dos canais radiculares. A abertura cervical e a superfície radicular, com exceção do forame apical, foram novamente impermeabilizadas com uma camada de cera pegajosa (Herpo Produtos Dentários) de aproximadamente 3 mm de espessura (JACOBSEN et al.10, 1993).

Duas raízes de cada grupo serviram como controle interno positivo e negativo. O controle positivo foi obturado apenas com guta-percha sem qualquer cimento obturador e a abertura de acesso e forame apical permaneceram sem impermeabilização, enquanto o controle negativo foi obturado com guta-percha e cimento obturador, de forma semelhante ao grupo experimental correspondente e foi completamente impermeabilizado com cera pegajosa.

Metade das amostras (um grupo experimental de cada cimento obturador) foram mergulhadas em plasma sangüíneo humano e armazenadas em estufa a uma temperatura de 37 + C e umidade relativa de 100%, durante 6 meses. O plasma foi fornecido pelo Hemocentro do Hospital Policlin de São José dos Campos - SP, Brasil, após as análises devidas. Nesse período, o plasma sangüíneo foi renovado a cada 7 dias em condições assépticas, dentro de uma câmara de fluxo laminar.

Decorridos 6 meses, as raízes foram removidas do plasma sangüíneo, enxaguadas com solução salina e imediatamente conduzidas ao corante de azul de metileno a 2%, solubilizado em plasma sangüíneo humano.
A colocação no corante foi realizada em um ambiente de vácuo de 20 mmHg, proporcionado por uma bomba de vácuo (Dia Pump, Fanem Ltda., São Paulo - Brasil, modelo CAL BF - 1725), conectada a um dessecador. As amostras permaneceram no vácuo por mais 1 hora e, em seguida, foram mantidas no corante a uma temperatura de 37 + 1°C e umidade relativa de 100%, durante 168 horas.

Os 4 grupos restantes, após a obturação dos canais radiculares e impermeabilização externa com cera pegajosa, foram levados imediatamente ao corante azul de metileno a 2%, solubilizado em plasma sangüíneo, de forma semelhante aos grupos anteriores.

Decorrido o tempo de permanência no corante, as raízes foram lavadas em água corrente por aproximadamente 24 horas, secas e removidas as camadas de impermeabilização externa. Depois foram secionadas ao meio, no sentido vestíbulo-lingual, seguindo a trajetória do canal radicular até o forame apical.
Dois examinadores realizaram a avaliação da infiltração linear apical ocorrida ao longo da interface dente/material obturador, nas margens vestibular e lingual utilizando-se um estereomicroscópio (Tecnival Carl Zeiss - JENA) com ocular de medição micrométrica.

As infiltrações observadas foram registradas e avaliadas estatisticamente quanto aos fatores: cimento, momento de imersão no corante e interação entre esses fatores.

Considerando os resultados e enfatizando as condições e limitações experimentais específicas deste trabalho, pôde-se verificar que:
  1. nos dois períodos de avaliação, as infiltrações observadas com os cimentos Sealapex e Sealer 26 foram estatisticamente iguais entre si e menores do que as verificadas com os cimentos Apexit e Ketac Endo;
  2. nos dois períodos de avaliações, as infiltrações verificadas com os cimentos Apexit e Ketac Endo foram estatisticamente iguais entre si;
  3. o fator tempo aumentou significantemente a magnitude das infiltrações, independente do fator cimento.  
* Professora Doutora da Faculdade de Odontologia da UNESP - São José dos Campos - SP.
** Professor Titular e *** Professor Doutor da Faculdade de Odontologia da UNESP - Araraquara - SP.

8º FICHAMENTO

Retratamento Endodôntico:
Estudo Comparativo Entre Técnica Manual, Ultra-Som E Canal Finder
 

Clovis Monteiro BRAMANTE*
Carla Vilma Junta FREITAS**


O avanço técnico-científico na área de Endodontia tem permitido um índice muito grande no sucesso do tratamento.

Todavia, algumas vezes, nos defrontamos com a necessidade de retratar uma determinada peça dentária em função do fracasso do tratamento anteriormente realizado.

Considerando que diversos materiais podem ser empregados na obturação dos canais, como pastas, cimentos, cones de guta-percha e cones de prata, é fácil entender as implicações que isso acarreta quando se faz necessária sua remoção.

O retratamento endodôntico tem sido, de um modo geral, realizado manualmente com limas tipo Kerr ou Hedströen associadas ao uso de solventes como xilol, clorofórmio, eucaliptol etc.

Com o advento de novos equipamentos, como ultra-som e Canal Finder, uma nova perspectiva se abriu para a realização do retratamento.

Se existem vantagens ou não, a literatura não especifica. O objetivo deste trabalho é fazer uma análise comparativa de retratamentos efetuados com as técnicas manual, com ultra-som e Canal Finder.

 Foram utilizados 30 incisivos centrais superiores humanos extraídos, que tinham sido previamente obturados com cones de guta-percha e cimento de óxido de zinco e eugenol pela técnica da condensação lateral proposta por BRAMANTE et al.1. A desobturação foi realizada após 1 ano de a obturação ter sido feita.

Todos os dentes foram radiografados no sentido mésio-distal e vestíbulo-palatino, com o objetivo de se verificar a qualidade da obturação do canal.

Após a remoção de todo o material da câmara pulpar, aplicou-se o solvente na embocadura do canal radicular durante 30 segundos, passando-se, então, para a fase de retratamento.

O solvente utilizado foi o xilol e, para a irrigação, a água destilada.

Grupo I - Técnica manual: limas tipo Kerre Hedströen
Após a remoção de todo o material da câmara pulpar e aplicação do solvente, iniciou-se a penetração com uma lima tipo Kerr nº15 até atingir o comprimento de trabalho. A seguir, uma lima tipo Hedströen nº15 foi introduzida no canal, iniciando-se a manobra de esvaziamento do mesmo. Quando esta ficava folgada no canal, passava-se imediatamente à mais calibrosa, até atingir a lima nº35. Durante essas etapas, novo solvente era aplicado e, ao final, o canal era irrigado.

Grupo II - Técnica com ultra-som: o aparelho ultra-som ENAC em potência 2 com limastipo Kerr
Do mesmo modo que no grupo anterior, após a remoção do material da câmara pulpar e aplicação do solvente, iniciou-se a penetração com limas tipo Kerr até se alcançar a extensão de trabalho, prosseguindo-se o esvaziamento até a lima nº35. Para a penetração inicial, o sistema de irrigação foi desligado, voltando a ser ligado nas etapas de esvaziamento.

Grupo III - Técnica do Canal Finder: contra-ângulo do sistema Canal Finder com limas apropriadas para o aparelho
Removido o material da câmara pulpar e aplicado o solvente, iniciou-se a penetração com limas Pathfinder até se atingir a extensão de trabalho. Prosseguiu-se então o esvaziamento do canal com limas Set-File nos20, 25, 30 e 35.
A cada troca de instrumento, os canais foram irrigados e foi novamente aplicado o solvente.
Durante a fase experimental, anotaram-se em ficha os seguintes dados:
  • Tempo A - tempo decorrido para a lima nº15 penetrar até a extensão de trabalho.
  • Tempo B - tempo decorrido até que se considerasse o canal adequadamente limpo com a lima nº35.
  • Tempo T - tempo total, a soma dos dois anteriores.
   Diante dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que:

1. Entre as técnicas investigadas - clássica, com ultra-som e Canal Finder -, nenhuma se mostrou eficaz em limpar completamente o canal.
2. Embora as técnicas não tenham permitido uma limpeza completa do canal radicular, a técnica do Canal Finder foi a que possibilitou resultados mais satisfatórios.
3. As três técnicas de retratamento propiciaram melhor limpeza da parede palatina do que da vestibular.
4. O tempo gasto para o retratamento foi menor na técnica clássica, enquanto que, para o Canal Finder, o tempo foi maior.
5. Conquanto todas as técnicas tenham demonstrado extravasamento de material obturador, na técnica clássica esse processo se mostrou em menor intensidade.

* Professor de Endodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.
** Residente em Endodontia do HPRLLP-USP, Bauru-SP.

7º FICHAMENTO

Cimentos endodônticos - selamento marginal apical imediato e após armazenamento de seis meses

Marcia Carneiro VALERA*
Mário Roberto LEONARDO**
Idomeo BONETTI FILHO***

A obturação do canal radicular complementa todo o esforço realizado nas demais etapas do tratamento endodôntico, conduzindo e contribuindo para o êxito definitivo deste tratamento. Para alcançar os objetivos desta importante fase, além das técnicas, o material obturador assume um papel de extrema importância.

O objetivo deste estudo foi avaliar o selamento marginal apical de canais radiculares obturados pela técnica da condensação lateral com cones de guta-percha e os cimentos Sealapex, Apexit, Sealer 26 (cimentos à base de hidróxido de cálcio) e Ketac Endo (cimento de ionômero de vidro). As avaliações foram feitas imediatamente após as obturações dos canais radiculares e após um período de 6 meses de armazenamento destas obturações em plasma sangüíneo humano.

Para esta pesquisa, foram utilizados 136 dentes unirradiculados humanos, extraídos e armazenados em solução de formol a 10% até o momento de sua utilização. Os dentes selecionados apresentavam um único canal radicular, que permitiu linha de acesso direto a 1 mm aquém do ápice radicular. Suas coroas foram secionadas, procurando-se padronizar o comprimento médio das raízes em 16 mm. O acesso cervical foi localizado e uma lima tipo K foi inserida no canal radicular desde a cervical até o forame apical, a fim de se obter o diâmetro anatômico de cada canal radicular. Foram desprezadas as raízes que possuíam canais radiculares com diâmetro apical menor e maior do que o correspondente a uma lima tipo K número 10 e número 25, respectivamente.
As raízes foram divididas em 8 grupos, cada qual com 17, culminando com 15 experimentais, de acordo com o cimento a ser empregado na obturação dos canais radiculares, procurando-se uniformizar as amostras de cada grupo experimental, de acordo com os diâmetros dos canais originais previamente estabelecidos.

Os canais de todas as raízes foram sobreinstrumentados meio milímetro até a lima número 30 (Maillefer, S.A. Swiss). O batente apical foi realizado a 1 mm aquém do forame apical, até a lima número 60, e, em seguida, foi realizado um escalonamento regressivo com as limas número 70 e número 80. Durante a instrumentação, a cada troca de instrumento, foram realizadas irrigações com 3 ml de solução de hipoclorito de sódio a 1%.

Ao término do preparo, os canais foram secos e, depois, preenchidos com uma solução de EDTA (EDTA dissódico - 202,8 g; hidróxido de sódio - 21,7 g; água destilada - 1.000 ml), que foi deixada no interior do canal por 3 min, seguida de uma irrigação e aspiração final com 10 ml de hipoclorito de sódio a 1%.

A superfície radicular externa foi impermeabilizada com três camadas de esmalte vermelho para unhas, com exceção da região correspondente à abertura de acesso cervical e ao forame apical. Os canais foram secos com cones de papel absorvente e, logo após, foi feita a seleção dos cones principais de guta-percha (Dentsply Indústria e Comércio Ltda.). Os canais radiculares foram obturados pela técnica da condensação lateral com cones de guta-percha e os cimentos Sealapex (Kerr/Sybron) - 2 grupos; Apexit (Vivadent Schaan/Liechtenstein) - 2 grupos; Sealer 26 (Dentsply Indústria e Comércio Ltda.) - 2 grupos; e Ketac Endo (ESPE Seefeld/Oberbay- Germany) - 2 grupos.

Todas as raízes foram radiografadas nos sentidos vestíbulo-lingual e mésio-distal, para constatação da qualidade das obturações dos canais radiculares. A abertura cervical e a superfície radicular, com exceção do forame apical, foram novamente impermeabilizadas com uma camada de cera pegajosa (Herpo Produtos Dentários) de aproximadamente 3 mm de espessura (JACOBSEN et al.10, 1993).

Duas raízes de cada grupo serviram como controle interno positivo e negativo. O controle positivo foi obturado apenas com guta-percha sem qualquer cimento obturador e a abertura de acesso e forame apical permaneceram sem impermeabilização, enquanto o controle negativo foi obturado com guta-percha e cimento obturador, de forma semelhante ao grupo experimental correspondente e foi completamente impermeabilizado com cera pegajosa.

Metade das amostras (um grupo experimental de cada cimento obturador) foram mergulhadas em plasma sangüíneo humano e armazenadas em estufa a uma temperatura de 37 + C e umidade relativa de 100%, durante 6 meses. O plasma foi fornecido pelo Hemocentro do Hospital Policlin de São José dos Campos - SP, Brasil, após as análises devidas. Nesse período, o plasma sangüíneo foi renovado a cada 7 dias em condições assépticas, dentro de uma câmara de fluxo laminar.

Decorridos 6 meses, as raízes foram removidas do plasma sangüíneo, enxaguadas com solução salina e imediatamente conduzidas ao corante de azul de metileno a 2%, solubilizado em plasma sangüíneo humano.
Os 4 grupos restantes, após a obturação dos canais radiculares e impermeabilização externa com cera pegajosa, foram levados imediatamente ao corante azul de metileno a 2%, solubilizado em plasma sangüíneo, de forma semelhante aos grupos anteriores.

Decorrido o tempo de permanência no corante, as raízes foram lavadas em água corrente por aproximadamente 24 horas, secas e removidas as camadas de impermeabilização externa. Depois foram secionadas ao meio, no sentido vestíbulo-lingual, seguindo a trajetória do canal radicular até o forame apical.
Dois examinadores realizaram a avaliação da infiltração linear apical ocorrida ao longo da interface dente/material obturador, nas margens vestibular e lingual utilizando-se um estereomicroscópio (Tecnival Carl Zeiss - JENA) com ocular de medição micrométrica.

As infiltrações observadas foram registradas e avaliadas estatisticamente quanto aos fatores: cimento, momento de imersão no corante e interação entre esses fatores.

Considerando os resultados e enfatizando as condições e limitações experimentais específicas deste trabalho, pôde-se verificar que:
  1. nos dois períodos de avaliação, as infiltrações observadas com os cimentos Sealapex e Sealer 26 foram estatisticamente iguais entre si e menores do que as verificadas com os cimentos Apexit e Ketac Endo;
  2. nos dois períodos de avaliações, as infiltrações verificadas com os cimentos Apexit e Ketac Endo foram estatisticamente iguais entre si;
  3. o fator tempo aumentou significantemente a magnitude das infiltrações, independente do fator cimento.
* Professora Doutora da Faculdade de Odontologia da UNESP - São José dos Campos - SP.
** Professor Titular e *** Professor Doutor da Faculdade de Odontologia da UNESP - Araraquara - SP.