sexta-feira, 22 de julho de 2011

Risco de Morte



O cirurgião-dentista e especialista em saúde coletiva Júlio César é taxativo: as doenças da boca podem matar. De acordo com ele, 40% das endocardites bacterianas — infecções do endocárdio — têm como causa as doenças bucais. Desse universo, 20% dos pacientes não resistem à patologia. “É uma questão de saúde pública. Praticamente 100% da população teve, tem ou terá cárie e doenças das gengivas, que são os problemas mais comuns da boca. As bactérias bucais caem na corrente sanguínea e se alojam nas paredes do coração, desencadeando os danos”, explica.

O especialista acrescenta que os processos infecciosos bucais se disseminam para o resto do corpo e podem afetar, inclusive, o cérebro. Como parte do aparelho estomatognático, a boca é importante para a fala, a deglutição, a mastigação e outros processos. “É a porta de entrada para a saúde. Se não cuidada, porém, a boca pode ser um portal para as doenças”, observa. As cáries e gengivites são as mais comuns. Embora a incidência tenha diminuído nos últimos 10 anos, os brasileiros ainda sofrem muito com elas (leia Para saber mais).

As novas gerações têm se mostrado mais atentas aos cuidados com a boca. Com um pouco de insistência e orientação, crianças e adolescentes acabam adquirindo bons hábitos de higiene bucal. Com a estudante Laíssa de Oliveira Domingues, 18 anos, foi assim. “Sempre tive mais propensão à cárie do que meus dois irmãos. Vou ao dentista desde os 4 anos, mas elas insistiam em aparecer”, lamenta. Quando Laíssa aprendeu a escovar corretamente e a usar o fio dental regularmente, a história mudou. “Hoje, escovo pelo menos três vezes ao dia e vou ao dentista de três em três meses. As cáries desistiram”, comemora a moça.

O cirurgião-dentista Haroldo Hab observa que os problemas gástricos decorrentes das bactérias bucais também são frequentes entre os pacientes da terceira idade. “As infecções orais crônicas são evitáveis. A visita periódica ao dentista objetiva essa prevenção. Na consulta, fazemos uma inspeção geral em toda a boca para detectar alterações. Entre elas, o câncer bucal”, pondera. Hab reforça que as doenças são multifatoriais e que as placas bacterianas maximizam as chances de a pessoa desenvolvê-las. “Nem todos que têm placas bacterianas desenvolvem cardiopatias, mas quase todos os cardíacos têm doença periodontal”, sintetiza.

O cardiologista do Incor/Taguatinga Evandro Osterne explica que as válvulas cardíacas são as mais afetadas e que pacientes com predisposição para cardiopatias devem ter ainda mais cuidado. “Trabalhos recentes demonstram que há uma relação grande entre a inflamação da gengiva e o agravamento do processo de arteriosclerose das coronárias e carótidas. No caso das endocardites, o tratamento pode ser com antibióticos fortíssimos ou até cirurgias de alto risco”, alerta.
Do Correio Braziliense

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