sexta-feira, 3 de junho de 2011

1º FICHAMENTO..

Cimentos endodônticos: análise morfológica imediata e após seis meses utilizando microscopia de força atômica

  Marcia Carneiro VALERA*
Ana Lia ANBINDER**
Mário Roberto LEONARDO***
Nivaldo Antônio PARIZOTO****
Maurício Urban KLEINKE*****

A obturação dos canais radiculares possui objetivos de natureza técnica, voltados à obliteração de todo o sistema de canais radiculares e também objetivos de natureza biológica, permitindo o fechamento do forame apical, por meio da deposição de tecido mineralizado por parte do organismo8. Para alcançar esses objetivos, além das técnicas de obturação, os materiais obturadores têm um papel de extrema importância. Na escolha de cimentos e pastas, deve-se sempre levar em consideração as propriedades físicas e biológicas dos materiais.

O objetivo deste trabalho foi analisar a morfologia das partículas dos cimentos Sealapex (Kerr-Sybron), Apexit (Vivadent Schaan-Liechenstein), Sealer 26 (Dentsply Indústria e Comércio Ltda.) – cimentos a base de hidróxido de cálcio e Ketac Endo (Espe Seefeld-Oberbay - Germany) – cimento de ionômero de vidro, através da microscopia de força atômica para verificar as características de suas partículas após obturação dos canais e após um período de seis meses de contato com o plasma sanguíneo humano.

Foram utilizados 16 dentes unirradiculares humanos, extraídos, pertencentes ao banco de dentes da Disciplina de Endodontia da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - UNESP, armazenados em solução de formalina a 10%. Após a remoção das coroas dentais, os canais radiculares foram preparados pela técnica de instrumentação seriada a um milímetro além do forame apical até a lima tipo Kerr número 80.

Todas as raízes receberam duas marcas na superfície externa, feitas com lápis preto, sendo uma a dois milímetros aquém do ápice radicular, e a outra 1,5 milímetros acima da primeira marca (em direção ao terço cervical). Em seguida, um cone de guta-percha de calibre número 80 foi introduzido no interior dos canais radiculares até o forame apical e nivelado a este nível com uma lâmina de bisturi, de modo que, em todos os canais, o cone principal atingiu o forame apical permanecendo travado a este nível.

Todos os espécimes com os cones de guta-percha foram incluídos em resina transparente (Araldite CY 248N com endurecedor HY 951). A resina foi vertida em fôrmas individuais de silicone com formato de um cone e as raízes colocadas individualmente no interior das fôrmas até que o ápice radicular tocasse o fundo da mesma, no local correspondente ao ápice do cone. As aberturas de acesso foram deixadas livres de resina de modo a permitir acesso aos canais radiculares. Após o tempo de cura da resina, os bloquinhos contendo as raízes no seu interior apresentaram um aspecto transparente.

As raízes foram divididas em quatro grupos e os canais radiculares obturados pela técnica da condensação lateral passiva, com três cones acessórios de guta-percha e os cimentos Sealapex, Sealer 26, Apexit e Ketac Endo, seguida de condensação vertical. As amostras foram mantidas em câmara úmida durante 12 horas.
Os blocos foram cortados transversalmente nos locais correspondentes às marcas feitas com lápis. Para este corte, utilizou-se uma serra circular (Buehler Isomet Low Speed Saw - Buehler Ltda., apparatus for microstructures analysis) com um disco de diamante (Buehler Diamond Wafering Blade High Concentration N.O. 14-42-44) de 0,015´´ sob abundante refrigeração à água. Obtiveram-se assim dois segmentos da porção apical do bloco, sendo que apenas a secção mais cervical foi utilizada na pesquisa e constituiu-se na amostra de estudo. Os seus dois lados foram identificados como lados A e B. As amostras foram então levadas para análise no microscópio de força atômica – AFM (Nano Scope II, Scanning Tunneling Microscope. Digital Instruments Inc. Santa Bárbara. C.A.93117).

Após as análises, os segmentos foram novamente encaixados ao restante dos respectivos cones e fixados a eles com duas camadas de Araldite (Brascola S.A., Ciba-Geigy). Em seguida, toda a superfície do cone de resina foi recoberta com uma espessa camada de cera pegajosa (Herpo Produtos Dentários Ltda.), inclusive a interface resina-dente na extremidade apical, mantendo apenas o material obturador exposto (lado B).
As raízes incluídas foram então imersas individualmente em plasma sanguíneo humano, contido em tubos de ensaio estéreis. Somente o lado B entrou em contato direto com o plasma. Os tubos de ensaio foram fechados com uma rolha de algodão estéril e mantidos em estufa a 37 ± 1ºC e umidade relativa de 100% durante seis meses. Neste período, o plasma sanguíneo foi trocado semanalmente ou a cada 15 dias, em ambiente asséptico, no interior de uma câmara de fluxo laminar (VECO do Brasil).
Após seis meses, as raízes foram retiradas do plasma, as amostras de estudo foram desmembradas dos cones de resina, e os lados A e B novamente analisados, utilizando-se o AFM.

Considerando-se as avaliações realizadas na metodologia proposta, verificou-se que:
  • o contato com o plasma sanguíneo humano provocou alterações na estrutura dos cimentos;
  • o Sealer 26 apresentou desintegração mínima após seis meses de contato com o plasma sanguíneo humano;
  • de todos os cimentos estudados, o Apexit apresentou a maior perda de estrutura, seguido pelo Ketac Endo e Sealapex.  
   
* Professora Doutora da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos da UNESP.
** Cirurgiã-Dentista.
*** Professor Titular da Faculdade de Odontologia de Araraquara da UNESP.
**** Professor Doutor da Faculdade de Fisioterapia da UFSCAR.
***** Professor do Departamento de Física Aplicada da UNICAMP.



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